segunda-feira, julho 16, 2007

FÉRIAS

Salve amigos e amigas, todos e todas.
Estou entrando de férias, da faculdade, da secretaria de cultura, das palestras, da associação Literatura no Brasil e daqui do blog.
Só volto dia 02 de agosto, salvo alguma excessão.
Por isso publiquei abaixo diversos textos entre, poemas, contos e crônicas. Alguns inéditos e outros não.
Essas publicações são também uma forma de homenagear vocês, leitores desse blog. Mas apeciem com moderação.
Não pensem que estou tirando férias pra ficar amaciando a bunda no sofá. É pra dar continuidade na escrita dos meus dois próximos livros: o romance "Estação terminal" e o infanto-juvenil "Peripécias de minha infância", que sairão no ano que vem.
Estarei respondendo normalmente aos e-mails que me chegam, mesmo em Salvador - BA, onde ficarei de 23 à 30 de julho.
Desejem-me boa sorte.
Abraços e até dia 02 DE AGOSTO.

Texto inédito

Eu só queria empinar pipa
O leitor não imagina a minha situação e nem em que circunstâncias eu estou narrando este texto. Mas vou contar. Havia entrado de férias do serviço. Estava sem grana, ou melhor, até possuía dinheiro para uma boa viagem, mas tinha acabado de comprar um terreno junto com minha noiva, e tinha de economizar para a construção que começaríamos dali há dois meses. Então resolvi curtir meus trinta dias de uma forma diferente. Tinha minha bicicleta, era só limpá-la, passar um óleo na corrente e nos rolamentos das rodas, encher os pneus e sair por aí. Porém, havia um primo meu, de três anos de idade que adorava ficar comigo. E eu gostava pra cacete do moleque. Foi identificação mútua. Nos finais de semana eu pegava-o e saía de role. Íamos na doceria, chupávamos sorvete, jogávamos vídeo-game e tudo mais. Era um pedaço de gente que sempre alegrava-me com sua inteligência. Não me chamava pelo nome, mas sim pelo grau parentesco. Não saía o “R”, então era assim: - Ô Pimo. Que criança fantástica. Bom, o fato é que percebi que ele adorava pipas. Vivia olhando para o céu e, quando via um avião ou pássaro, gritava: - Ó a pipa, ó a pipa. Uma vez passamos num campinho onde alguns meninos empinavam seus papagaios. Pedi para um deles deixar o meu primo pequeno segurar um pouco a linha que mantinha a pipa no ar. Quando o Gabriel segurou na linha, senti que aquele foi o momento mais feliz da vida dele. Seus olhos brilharam, e ele nem conseguiu sorrir de tanta fascinação. Sem dúvida, ele sentiu o que toda criança sente num momento como esse; a pipa no ar balançando de um lado á outro, o vento soprando, a liberdade presa numa linha corrente, o sol, o céu azul... Por essas e outras é que resolvi empinar pipa com ele durante todos os dias das minhas férias. Pois bem. E foi justo no sábado de manhã, primeiro dia das férias, que tudo aconteceu. Estava mais feliz do que se tivesse ido para Fernão de Noronha. Parecia uma criança quando descobre uma nova brincadeira. Mesmo porque, a alegria era dupla, uma pelo meu primo, outra por mim, que há muito estava com vontade de fazer aquilo, relembrar a minha adolescência e sentir a alegria de cortar as pipas alheias, ato que, naquela época, me fez ganhar respeito onde morava. Então, no sábado, às oito horas, peguei o carro e fui para o Jardim Beltono, onde havia um bazar que vendia carretéis de linhas, cortante, rabiola entre outros instrumentos para pipas. Lá, comprei tudo o que precisava, inclusive pipas prontos, coisa que nunca fiz, já que quando empinava, eu mesmo gostava de fazer as minhas. O Jardim Beltono, fica ao lado do meu bairro, na verdade são os dois bairros mais altos da cidade de Guarulhos. Portanto, teria que descer de onde fui comprar as coisas, para depois subir ao meu bairro. Aí que deu o ocorrido. Optei pela rua mais íngrime, até hoje não sei por quê. No final dela havia um muro que cercava um matagal, então tinha que virar para a esquerda ou á direita. A felicidade era tamanha que enquanto descia, aumentei o som e apoiei o braço esquerdo na porta do carro. Quando ia começar a diminuir a velocidade, faltavam apenas uns trinta metros para o fim da rua, pisei no freio e ele não correspondeu. Como estava relaxado, demorei para puxar o freio de mão e quando consegui, já era tarde. Senti dois baques. O primeiro foi na batida, o segundo foi quando o muro caiu em cima do carro. Pra minha maior infelicidade estava consciente, por isso senti muita dor e, os gritos que vinham das pessoas que presenciaram o acidente me deixavam aterrorizados. Uma delas gritou: - Não cheguem perto, tá vazando gasolina, vai explodir. Depois disso desmaiei. Quando acordei não consegui abrir os olhos. Só ouvia um choro bem baixinho e parecia que alguém segurava na minha mão. Não sabia ao certo o que estava acontecendo. Tentei falar, mas não consegui mover sequer os lábios. De repente escutei um abrir e fechar de portas. A mão que segurava a minha, afrouxou. Então ouvi a seguinte frase: - Olha mãe, seu filho entrou mesmo em estado de coma e, pelo atual quadro não temos uma previsão de quanto tempo ele ficará assim. - Nãoooooooo. Meu filho tem muita coisa pra fazer, ele vai casar daqui á pouco, vai ter filhos e vai... - Calma senhora, tenha calma. Não aja assim se não só vai piorar as coisas. O coma é imprevisível. Ele pode acordar agora, como pode acordar daqui há três, quatro anos. Só ouvia o choro de minha mãe. Aos poucos fui lembrando de tudo o que havia acontecido. Comecei a chorar. Porém, tudo piorou, as lágrimas não saíam pra fora dos olhos, parecia que estava represando no meu coração, qual soro passeando pelas veias. Ouvia tudo, e vez ou outra sentia algo me tocando, não sabia ao certo se era minha mãe, o médico ou algum aparelho. E pensei se estava de fato em estado de coma. Reuni todas as forças para se mexer, falar ou agir de algum jeito. Nada consegui. Perdi toda a vida que eu tinha pela frente. A minha noiva, acho que é ex, vem me ver pelo menos uma vez a cada três meses, se tiver arrumado outro homem, não a culpo por isso, ela não pode mesmo me esperar. Tenho saudades é dos dias com o meu primo Gabriel, como eu gosto daquele garoto. Hoje já tá com 8 anos, deve tá um homão. Eu ainda não tenho certeza se estou em coma. Sempre ouvi dizer que quando uma pessoa está nesse estado, ela não ouve e nem sente nada, é como se estivesse morta. Em vários momentos sinto que estou chorando, pois minha mãe, quando vem me visitar, fica limpando o canto dos meus olhos. O pior de tudo isso não é ficar aqui deitado, mas ficar revivendo em pensamento tudo o que eu vivi, todos os meus momentos. Só não consigo mais imaginar, parece que com o acidente eu perdi a imaginação. Tudo o que sei e que passa pela minha cabeça, vai até o momento da batida no muro e o grito de alguém dizendo que ia explodir. Então, fico lembrando minha adolescência na rua quinze em Jânio Feital na cidade de Monte Alto, interior de São Paulo. Adorava mesmo eram as tardes, pois na parte da manhã eu estudava. No período da tarde era que a vida acontecia de fato. As brincadeiras naquele tempo eram questões de época. Tinha a época de pipa, de jogar bolinha de gude, rodar pião. E quando não era época de nada, a gente é que fazia as brincadeiras, como o pique-esconde, as fogueiras e o rouba-bandeira. Adorávamos ver passar a perua dos doces, que antes não tinha apenas a maçã do amor, tinha também suspiro, pipoca, algodão doce e pururucas. O que eu mais gostava eram as bolachas de doce de leite. Pegava as panelas e garrafas velhas e trocava por várias bolachas. Em cada pacote vinham três fileiras bem servidas. Entrava em casa e enchia o copo de café com leite, sentava na calçada e me acabava de tanto mastigá-las. Outra coisa que eu sempre lembro era a época de pipas, que ocorria nas férias escolares de janeiro, julho e dezembro. Nunca gastei dinheiro com isso, eu até ganhava. Roubava as linhas de outras pipas, catava os bambus dos vizinhos e depenava. Desenvolvia dezenas de varetas e com isso fazia as pipas que ora vendia, ora empinava. Rabiolas e cortantes era eu quem produzia também. E toda vez que alguém via eu colocando uma pipa no alto, esse alguém tratava logo de retirar a sua, pois eu não deixava por menos; cortava tudo. É, pena que tudo agora são memórias, memórias como essas que você lê neste momento. A vida é mesmo muito frágil. Já havia pensado nisso antes, mas não dava tanta atenção como agora. Penso que se tivesse evitado as férias, isso não teria acontecido. Aliás, vários detalhes me levaram a estar aqui. Hoje, cinco anos depois, neste trocar de camas, entrar e sair de quartos, ainda lembro de todos os detalhes do acidente. Tudo isso apenas porque eu só queria empinar pipa. Talvez nem passe pela cabeça do meu primo Gabriel que estou assim também por sua culpa. Coitado, nem tinha noção. Ele queria viver sua infância, eu também. Infelizmente não deu.
Sacolinha!

Espaços

Estou cavando os meus e para os meus!

Poesia

Maria
E agora Maria?
Que acordou cedo,
Já fez o café,
Ouviu no rádio
Transporte não tem.
No trabalho atrasada,
Mandam voltar.
E agora Maria?
Cadê o metrô?
De greve entrou,
Carro não tem,
Nem dinheiro também,
Pra pagar o táxi Maria.
E agora?
Se você voltasse,
À cama ninasse,
Mas você não volta Maria,
Você é dura.
Mulher de labuta,
Não deixa por menos,
faz e acontece,
Mas sem transporte?
E caso não vá,
Amanhã há outra,
Em seu lugar.
E sua atitude,
Onde é que ela está?
Onde Maria?
Não chega o marido,
Madrugada se finda,
Dormem os filhos,
E o trabalho Maria?
Por causa da greve
Tudo acabou?
Você é forte mulher,
Dá-se um jeito
Corre atrás,
Mas correr pra onde?
Sacolinha!

Conto novo

Zé Moraes e a política pessoal
Então foi assim que tudo aconteceu. José Moraes tinha apenas 22 anos quando decidiu entrar na política e fazer diferente. Isso, porque odiava ver as besteiras que os partidários cometiam. Parecia que nada dava certo e o país não crescia. A idéia ocorreu quando estava numa lotação e ouviu a conversa de dois sujeitos sobre o novo escândalo na política. Um deles dissera: - O pior, é que vai ser sempre assim, entra um e sai outro e nada muda. Não chega um, pra fazer diferente. Fazer diferente. Essas palavras ficaram em sua cabeça: Fazer diferente, fazer diferente, fazer diferente, fazer diferente... E ficou pensando em algo novo. Um desafio em seu caminho. Pensou tanto, que quando caiu em si, já havia passado do ponto em que ia desembarcar. Quando desceu, viu que teria de andar uns 10 minutos para chegar ao local onde deveria saltar. Começou a caminhar resignado. Na verdade, aqueles 10 minutos de andança, não significavam nada perto do desafio que tinha pela frente. - Será? Perguntou pra si mesmo, espantando o transeunte que passava ao seu lado. E começou a aceitar aquela súbita idéia de ser o político diferente. Na casa da namorada, quase não abriu a boca, contrariando o jovem falador que sempre fora. Em resposta ás perguntas que lhe jogavam, só dizia: - Nada não. E passou todo o domingo assim, alheio ás conversas dos sogros e cunhados, alheio ao beijo da companheira e alheio ao filme que ela alugara. Na manhã do dia seguinte, José Moraes foi o primeiro aluno a chegar na universidade onde cursa jornalismo. Quando os portões abriram, ele correu em direção á sala de “Apoio ao Estudante” que era coordenada pelos próprios alunos e tinha o objetivo de adquirir benefícios aos mesmos. Ainda não havia ninguém, resolveu esperar, mas ficou nervoso quando tocou o sinal para o início da primeira aula. - Vagabundos. Como é que vamos mudar as coisas desse jeito? Cadê vocês para ir á luta? Correu até á livraria e verificou o preço do livro “O pensamento vivo de Che” que há muito ele via exposto na vitrina. Consultou a carteira; nada de dinheiro. Comprou no cartão mesmo. Na sala, mal prestava atenção na fala do professor. Lia trechos das idéias do revolucionário Ernesto Che Guevara e ficava a imaginar como poderia colocá-las em prática nos dias atuais. Dali pra frente ele só tinha um pensamento: Fazer diferente. Entrar na política, participar ativamente, discutir, debater, argumentar e até brigar, se possível, para defender a vontade da maioria, dos excluídos, dos sem tetos, sem terras, sem reforma agrária, dos sem saneamento básico, dos sem saúde, dos sem nada. Queria mesmo era trabalhar em prol dos mais humildes. E pra isso, estava disposto á tudo. Tanto, que se filiou no movimento estudantil e num partido de esquerda. Começou a se envolver em ocupações e em acampamentos de invasões. Não estava para brincadeira. Mudava a cada dia. Vanessa já não sentia mais os carinhos intensos que antes recebia do namorado. As conversas não eram mais sobre o casamento e nem dos futuros filhos do casal. José Moraes não era mais o mesmo. E diante das várias mancadas que ele deu, Vanessa resolveu terminar o relacionamento de seis anos. José achou melhor assim, não ia mesmo ter tempo para namorar. Dali pra frente, tinha que se dedicar ao máximo para atingir o seu objetivo. Fazer diferente. Em casa também não era mais o mesmo. Chegou a discutir diversas vezes com a irmã por ela estar assistindo novelas. - Poxa vida, desliga essa merda então cacete. Se fosse pelo menos o telejornal. Diante do comportamento de revolução e mudança, os amigos de infância começaram a se afastar dele. Não acompanhavam o seu raciocínio. E os novos amigos, militantes de movimentos políticos e sociais, apelidaram-no de Zé. É agora o Zé Moraes. E quem não conhecia Zé Moraes? O jovem que aparecia em várias reportagens de manifestação á favor do passe-livre para estudante, contra o aumento da passagem de ônibus, contra a privatização do metrô, contra tudo de ruim para o povo. Já peitou a polícia várias vezes, inclusive, têm duas marcas roxas no corpo, resultado de balas de borracha disparadas em meio a manifestações. E não teve jeito. Saiu de casa mesmo. As brigas agora eram com todos, os pais não entendiam o seu ideal. Sendo assim, juntou as roupas e livros, e foi dividir um apartamento com um companheiro no centro de São Paulo. Terminou o curso de jornalismo á trancos e barrancos, pois não estudava para as provas e havia deixado de participar do grupo de estudo. Era ano de eleição, mas cedo demais para se candidatar, apoiou ativamente dois candidatos do seu partido, um vereador e um prefeito. Foi em porta de escolas, passou de casa em casa, subia nos caminhões e fazia discurso bonito, cheio de indignação e verdades, participou de dezenas de reuniões, carregou bandeiras e entregou panfletos. Tudo em prol da mudança. No fim, o prefeito fora eleito, mas o vereador não atingiu os votos válidos. Zé Moraes ficou contente, no campo majoritário conseguiu eleger o homem. Foi convidado a assumir a Secretaria da Juventude, e isso não havia negociado em momento algum. Mas não deixou de aceitar, era mais um passo para o seu crescimento. Pediu demissão no seu antigo emprego e, no primeiro dia útil do mês assumiu a sua cadeira. Começou com cortes. Não por esse ou aquele pertencer á administração anterior, mas por saber que ninguém ali trabalhava, antes aquilo era um verdadeiro “cabide de empregos”. Filho de tal vereador que apoiou o projeto tal, mas pra isso pediu uma vaga para seu filho. Coisas da política. Mas com Zé Moraes isso iria mudar, afinal, ele veio pra fazer diferente. Devido às demissões, os primeiros dias foram turbulentos na secretaria. Passado esse pesadelo, ele começou a pensar apenas nos projetos. Dois anos se passaram e, no congresso estadual, o balanço do partido político, deu nota 10 para a atuação da secretaria de Zé Moraes. Foi a partir daí que ele começou a pensar seriamente em sair candidato á Deputado Estadual na próxima eleição. Pra isso, já contava com bastante aliados, tanto do partido quanto da sociedade civil organizada. Começou então a se articular, visando agora o objetivo final. Nas prévias do seu partido, a sua candidatura foi aceita quase com a maioria absoluta de votos. Era agora pré-candidato. Mais um degrau vencido, pois sabia que não era fácil, antes mesmo de ser aceito pelo povo, tinha que passar pelo crivo dos companheiros do partido, e ali a briga era feia. Cobra comendo cobra. Muita articulação e argumentos eram o que contavam. O próximo passo foi, no ano da eleição, pedir afastamento do cargo em que ocupava na prefeitura. Tarefa cumprida no mês de fevereiro. Aí, começou a angariar fundos para a sua campanha. Logo de início, comprometeu o dinheiro que havia em sua conta bancária, não ia depender de terceiros para isso, e sabia que grana em época de campanha eleitoral, é questão de negociação política. Ele estava convicto na sua escolha, desejava com todas as forças, assumir um cargo na Assembléia Legislativa e mostrar ao povo que tem alguém por eles. E para os deputados existentes, iria dar uma aula de política digna. Ia mesmo fazer acontecer. Acreditava nisso e, muitos viram que Zé Moraes era verdadeiro. Ia fazer diferente. No mês de junho é que liberaram a campanha eleitoral. A partir daquele ano estava proibido show micio, cartazes, outdoors, bonés e camisetas estampados com o nome de qualquer candidato. Mas, Zé Moraes, não perdeu muito com isso. Gostava do corpo á corpo, e tinha fé que assim iria vencer. Numa reunião do partido, dera risada quando ficou sabendo de alguns candidatos para aquela eleição; um músico que cantara forró a vida toda porque não sabia fazer outra coisa e, um homossexual de 70 anos, estilista e apresentador de programa de televisão desses que passam no período da tarde. Esses dois nunca, sequer, subiram numa plenária de câmara municipal. Outros candidatos também arrancaram risos de Zé Moraes; um ex-prefeito da cidade de São Paulo que fora acusado várias vezes de lavagem de dinheiro e chegou á ir preso. E dois outros que estiveram envolvidos no maior escândalo da história política do Brasil. Sem contar outras dezenas de candidatos de pequenos partidos que nunca vira e nem ouvira falar. Não tinham envolvimento político. Zé Moraes tinha, e cada dia de campanha, via que suas chances eram grandes. Véspera da eleição. Ele se esgotou. Foram quatro meses de andanças, conversas, passeatas, reuniões em bairros, cansaço, fome, discussão, conscientização popular, entrevistas, elaboração de plano de governo, composição de possível acessoria... e, finalmente chegara o dia. Estava feliz. Nada de promessas, compra de votos e cestas básicas. Tinha a plena consciência de que fez uma campanha limpa e honesta. Votou na parte da manhã, passou em algumas escolas para cumprimentar amigos e eleitores. Almoçou com companheiros partidários e de tarde foi para o diretório do partido, onde continuou toda a noite aguardando o resultado das eleições. Às onze da noite começou a aparecer os primeiros políticos eleitos da cidade de São Paulo. À uma da manhã um site na internet dera o resultado completo da eleição estadual. O nome de Zé Moraes não constava na lista de deputados eleitos. Aquilo foi mais que um choque. Não podia esperar, a hora era agora, nada de próxima eleição. Ele estava ali, vivo, com desejo mortal de fazer diferente. Mas algo dera errado e ele não fora escolhido para representar o povo. O que bateu mais forte ainda no seu coração, foi ver que todos aqueles candidatos medíocres e corruptos foram eleitos. Ouviu na TV a fala do deputado homossexual. O repórter perguntou qual era a primeira coisa que ele iria fazer como deputado. A resposta arrancou lágrimas dos olhos de Zé Moraes. - Não sei meu bem. Primeiro eu quero ser apresentado à minha sala, à minha mesa, quero conhecer os móveis que vão compor meu ambiente de trabalho. Não tenho projetos, não nasci lá dentro, vou ter de aprender tudo. E o repórter insistiu numa nova pergunta, ao qual o deputado respondeu: - Não tenho sensação nenhuma. Já sou uma vedete. Já tenho fama há muito tempo, pra mim, é só um emprego a mais. O mais bem votado fora o ex-prefeito da cidade, com maior número de acusações de desvio de dinheiro. Naquele momento, Zé Moraes pediu perdão á Deus pelo que ia falar: - Meu Deus, me perdoa, mas um povo que elege esses canalhas tem é que sofrer mesmo. No dia seguinte, em reunião com alguns partidários para discutir e analisar as eleições, ele ficou sabendo sobre muitos atos de corrupção dentro do próprio partido, o que diretamente prejudicou a sua eleição. Irritou-se, resolveu tirar satisfações e, se fosse verdade, levaria á público, porque ele era homem digno. Arrumou encrenca e se envolveu em briga física com ex-colegas de partido. Ameaçaram-no de morte. A partir do ocorrido, Zé Moraes ficou perplexo e perdeu as esperanças. Passou um dia inteiro dentro do apartamento, refletindo sobre a sua militância. Envolveu-se em diversos movimentos sociais, políticos e estudantis. Filiou-se num partido em que acreditava. Passou muita fome, necessidades e várias vezes ficou doente em congressos e bienais pelos estados do Brasil. Lembrou das viagens que fazia dentro de ônibus fechado e cheio de jovens fumando maconha. Ele passava mal, era o único careta da turma. Quantas vezes não fora criticado por isso. Largou família, namorada, amigos antigos, deixou de lado a profissão de jornalista, entregou panfletos de conscientização, andou de sol á sol. Enfim, viveu pela militância, pra fazer diferente, e no fim, acaba sendo traído, pelo povo e pelos companheiros. Conclui, que o país estava sem rumo, que tudo estava perdido e não tinha mais jeito. Então resolveu fazer uma política pessoal; se desfez de tudo e de todos. Juntou suas decepções e saiu mundo á fora. Zé Moraes começou a fumar maconha. Virou Hippie. Quem passa pelas praias pode vê-lo, com cabelo grande e barbudo, vendendo pulseiras e artigos confeccionados por ele mesmo.
Sacolinha!

Mini conto

Scariottes
E no dia em que Jesus partiu o pão, o lazarento já estava lá.
Sacolinha!

Musicar a vida

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.

POEMA*

De origem jornalística
À Manuel Bandeira e seu personagem “João Gostoso”.
Zé Negão, ajudante de pedreiro,
Andava na madrugada de sábado,
Na saída do baile pela polícia foi abordado,
Revistado
Interrogado
Surrado
Seu corpo foi encontrado
Pelas crianças
Que brincavam no terreno ao lado
Cheio de mato
Próximo á avenida do Estado,
num terreno abandonado.
Sacolinha
* publicado nos Cadernos Negros vol. 29 - poemas 2006

Conto de mesquinharia

Intolerância
DE SIS TI. Não dava mais menina. Acordei de manhãzinha, liguei pra minha mãe e pedi pr’ela me buscar. Arrumei minhas coisas e ZAP. Fui. Quando ele acordou eu já tava looonge. Agora imagina: eu, desprendida desse jeito, adoro uma farrinha, uma cervejinha... Ficar com aquele parasita? Não deu amiga. Vi que aquilo não era pra mim. Depois que ele entendeu ligou pra minha pessoa, resmungando que eu nem tinha se despedido. O que ele queria? Beijinho, sexo e café da manhã na cama? Ah, não vigia não pra vê. Deixei tudo lá, só peguei minhas roupas e meus cd’s, não quis mais nada. Essa vida não é pra mim. Esperta foi minha prima, faltando dois dias pro casamento dela, cancelou tudo. Ainda ligou para o noivo e disse que não iria casar porque não gostava dele. Ririririri. Só rindo mesmo, né? Agora imagina, depois de quatro anos juntos é que ela foi avisá-lo disso. Pode? Ah, eu sei que eu sou eu. Num gostei de uma coisa, renuncio. Num sô obrigada. Mando tudo pro inferno. Esse emprego mesmo, onde já se viu? Folguei ontem que era sábado pra trabalhar hoje. Uhhh, ninguém merece. Num fiz nada, fiquei pra cima e pra baixo o tempo todo. Bebi duas cervejas lá no bar e fiquei zanzando igual cachorro faminto atrás de algo, sem necas de catibiriba pra fazer. De tarde fui com meu irmão no mercado, aí tomamos uma cerveja e pronto. Foi assim a minha folga. Tomara que hoje o ambulatório esteja funcionando. Vou fingir que tô passando mal só pra não atender. DO MIN GO, UM SOL DE SSE, o povo tudo na rua se divertindo e eu LÁ, com o fone no ouvido OUVINDO reclamações dos filhinhos de papai. Ah, nem morta minha fia. Sexta eu fui lá na boate da Radial, eu e a Cléia. MI NI NA, tinha dois gabirú lá, que pelo amor de Deus. Primeiro só ficaram nos olhando, depois vieram com um papinho de colocar o copo em cima da nossa mesa... ai, ai, ai, ai, ai. A Cléia olhou pra mim, viu qu’eu num tava gostando nada daquele papo furreco e me chamou pro banheiro. Aí, combinamos de ir pr’outra balada que ali num ia dar em nada. Fomos lá pro Atelier’s Bar, ali na Vila Madalena. Conhecemos muita gente. Só tinha um palerma por lá que insistiu querendo o meu telefone, aí passei o da Cléia e pronto. Dancei muito. Ririririri. Ah, eu sô muito baladeira. Quem num gosta disso é minha mãe, vive reclamando. Eu falo, “mãe, tô saindo” aí ela “pra onde minha filha”, “ah, sei lá, vou pra balada”. Aí reclama, reclama, reclama. É que ela é crente tadinha. Vive dizendo Deus pra lá, Deus pra cá. Aja paciência. Vamos marcar uma baladinha semana que vem, amiga? Tem que ser boa, nóis vai lá pro centro que tem bastante opção. A gente arruma alguém que tenha carro pra nos trazer. O ruim de nóis morar desse lado é a condução. Sair lá dos cafundó de condução, é a gota. As minas que vão pr’esses bailes daqui do centro, só vem de carro. Precisamos arrumar uns amigos motorizados. Mas num pode ser qualquer carro não. Teve uma vez que eu marquei encontro cum menino pela internet. Ele tinha carro e tudo, mas quando eu cheguei no local, que vi aquele barango, corri que nem uma doida de volta pra casa. Eu hein, xô, credo e cruz. Taí outra coisa que num tenho paciência. Esse negócio de ficar batendo papo no computador. Eu num fico mais que uma hora. Digo tchau, que tô saindo, ou marco logo um encontro e PRONTO. E essas pessoas que ficam na internet procurando namoro é porque num tem papo. É tudo nerd, não sai de casa e não sabe conversar. Eu hein, isso é cilada na certa. Ai amiga, essa nossa vida, num suporto. Só por Deus mesmo. Deixa eu ir, antes qu’eu resolva dar meia volta e mandar tudo pro inferno junto com meu supervisor. Bye, bye.
Sacolinha!

Sentimento maior

Amar aquilo que fazemos!

Argumentos

Eu, prostituta?*
Porra nenhuma. Nome mais feio esse que arrumaram pra gente. Não tinham um nome melhorzinho não? Dizem que este nome tem a ver com o Marcel Proust, aquele do tempo perdido. Hum, se for mesmo então tá bom, mas por quê? Será que ele vendia prazeres também? Ouvi dizer que os escritos do Proust levam a pessoa à loucura... Ah, sim, é verdade, deve ser por isso, a gente também leva o homem à loucura. Têm uns que chegam aqui de cabeça baixa, com a auto-estima lá no sapato, tadinho, a gente vê no olhinho dele a tristeza. Na hora do programa a gente reverte a situação. Já passei por cada uma, só vocês vendo mesmo. Há uns que não sabe nem o que diz, fala que me ama, que eu sou tudo na vida dele, linda, gostosa, tesão... E o cara nem me conhece. Recebo convites o tempo todo; é um que me chama pra morar junto, outro que quer namorar, até convite de casamento eu já recebi. Vê se pode. É tanta coisa que a gente faz pra sociedade e ela vem com um nome ridículo, “Prostituta”. Cora Coralina declarou ser a minha irmã sabia? É, você não leu não? Chama-me de prostituta e você mesmo não lê. Eu leio, e não pense que sou fã desses livrinhos de banca de jornal, as Biancas, Julias e Sabrinas, isso eu deixo pras depressivas. Minha leitura é outra. Pois é, como eu estava falando, a Cora Coralina fez uma poesia para nós, “Mulher da vida, minha irmã”, nessa poesia ela fala tudo sobre a gente, por isso acho que todas as pessoas de todas as línguas devem ler esta poesia da Cora, assim vão aprender a respeitar a gente que muito faz pra sociedade. Você ri é. Então vai anotando aí os favores que nós fazemos, anota aí as tragédias que evitamos. Estupros. Evitamos muitos estupros. Chegam uns viciados em sexo por aqui, tudo insaciáveis, e o pior é que são tudo feios, coitados. Aí você imagina se nós não existíssemos, as mulheres não dariam bola pra eles e iam pegá-las a força. Estupro isso sim que iria acontecer. A minha irmã Cora poetiza diz isso na sua poesia. De vez em quando chega uns estressadinhos querendo se amenizar, e tudo de aliança no dedo. Eles vêm com uma fúria que se você não se segurar eles te rasgam toda. É mesmo, eles ficam nervosos e estressados e vêm descontar na gente. No final de tudo se limpam, pagam e vão embora, só voltam quando a adrenalina sobe de novo. Não estou reclamando não, só fazendo uma observação. Ah, sim, lembrei, o CENSO vive atrás da gente querendo fazer pesquisa. É o CENSO mesmo? Ah, sei lá, são umas pessoas que chegam aqui falando que são de não sei de onde. Perguntam com quantos transamos por dia, quem são os homens que nos procura e outras coisas. Só não perguntam a cor, deviam perguntar. Fica aí uma sugestão né? Os brancos é que nos procuram mais sabia? Em segundo lugar são os negros e em terceiro são os japoneses. Mas os mais gostosos são os negros, eles têm um corpo firme, umao de nng, e ss que hagam aqui uisarior, fazer filhos e viver feliz com eles. comer , tes convicção na transa. O cacete então nem se fala, duro e gostoso de pegar, quando entra na gente parece que vai atingir o outro lado de tão grande que é. Isso não é só eu que penso não, pelo menos já vi muitas mulheres por aí falando isso e no meio que trabalho a opinião é coletiva. Agora o nome “Prostituta” foi abreviado por “Puta”, e não é que inventaram um palavrão com nosso nome? Chamar alguém de “filho da puta” é ofensa. Que que é isso pessoal? Puta é sinônimo de mulher guerreira, forte corajosa. Quem é chamada de “Puta” tem é que ficar lisonjeada, pois a gente faz tanta coisa, coisa inclusive que homem não agüenta viu... Imagina aí, às vezes transamos com oito ou dez clientes por dia, agüentamos hálito de cachaça e homem pesado em cima de nosso corpo, às vezes estamos sem um pingo de disposição e tesão, mas mesmo assim deixamos o cliente satisfeito. Odeio ouvir as mulheres falando que somos de vida fácil. Fácil o escambau, por que elas não vêm pra essa vida então? Se eu pudesse arrumava um homem humilde e bonito e ia morar numa casinha qualquer no interior, fazer filhos e viver feliz com eles. Mas não posso, optei por essa profissão e tenho que honrá-la, não posso voltar atrás, além do mais eu presto um grande serviço à sociedade como já falei. Só não gosto desse nome, maldito nome. Eu não sou prostituta.
Sacolinha
* retirado do livros 85 Letras e um Disparo

Força

O jeito é não medir esforços para conquistar aquilo que se quer.

Mais inédito ainda

Entre o sim e o não!
Passara a noite em claro. Não sabia se tinha feito a coisa certa. Há um mês seu cunhado tinha feito o pedido. Aquilo poderia mudar sua vida. Vinte por cento do dinheiro roubado seria dele, pra isso só precisava passar a rotina do banco e, na hora certa dar uma de vacilão, como não soubesse de nada. Pensou, pensou e pensou. Pensou demais. Havia ponto negativo? Sim, claro, se dar errado haverá ponto negativo pro resto da vida. Mas, dando certo, o ponto positivo será mais que positivo. Sairia daquele quartinho em que vive de favor há sete anos, com sua esposa e seus três filhos. Ela e as crianças dormem na cama e ele, mal dorme numa rede pendurada acima da sua família. Os móveis, quase todos ganhos ou comprados na loja de usados, mal cabem naquele cômodo com cheiro de mofo. Barata ali já faz parte da família. O menino mais novo nem se incomoda com elas, usa-as como brinquedo. Luciano têm muitos amigos e parentes que querem visitá-lo, mas, ele sempre adia o convite com uma frase típica do povo brasileiro: “Qualquer dia eu levo vocês para um almoço lá em casa”. Mas esse dia nunca chega. Agora poderia chegar. Se o assalto que ele concordou em ajudar der certo, aí vai convidar o pessoal para um churrasco na casa nova. Não sabe ao certo, mas o assalto pode render até duzentos mil reais, dos quais, quarenta mil virá para o seu bolso. Aceitou entrar no esquema. Trabalha numa agência do maior banco existente no país. Ali, é segurança há mais de três anos. Por isso conhece tudo e todos. Passou duas semanas seguidas preparando o croqui da rotina da agência. Era metódico no que fazia e fazia bem feito. Tanto, que quando a quadrilha de seu cunhado pegou as informações, ficou toda em polvorosa alegria. Aumentou de vinte para trinta por cento a parte de Luciano. Pois ali tinha tudo o que precisavam e mais um pouco. Até a hora exata de cada funcionário almoçar e os nomes dos clientes mais ricos daquela agência tinham nas folhas que Luciano passara para a quadrilha. Tudo estava acertado e sob controle. Mas ele não conseguira sequer cochilar esta noite que passou. Sentiu coisas estranhas, uma ansiedade seguida de frio na barriga. A orelha ficou quente o tempo todo. Parece que passou por alguns instantes de alucinação, ouvindo na madrugada gritos e cachorros latindo. O pior de tudo é que o silêncio após os latidos foi ensurdecedor. Não ouvia nada, nem mesmo a respiração da sua família amontoada naquela cama sustentada por blocos. O coração só acalmou lá pelas seis da manhã, quando sua esposa levantara. Ela trabalha numa pequena garagem com mais quatro amigas costurando roupas para uma senhora que atende encomendas de algumas marcas. Após se trocar e tomar um café sem pão, ela sai deixando as duas crianças mais velhas na escola do bairro. Luciano levanta e prepara o menino mais novo para levá-lo à pré-escola. Na porta da escolinha, ele respira fundo depois de deixar seu filho para mais um dia de recreação infantil. Promete para si mesmo que se tudo correr bem, fará da sua família as pessoas mais felizes do mundo. Antes de iniciar a caminhada de cinqüenta minutos que faz todos os dias para chegar ao trabalho, ele decide passar na porta de uma igreja e pede pra que tudo dê certo. O desespero era tanto que cada igreja que passava, renovava o pedido. Apesar de ser católico, não importava se a igreja era ou não do seu credo. Se passasse em frente a um terreiro também faria o pedido. O importante era que o assalto desse certo, não importava de onde viesse a ajuda. Dizia consigo mesmo que aquilo não era pecado, e que se fosse, Deus o perdoaria, pois todos esses anos em que fora funcionário daquele banco, nunca sequer ganhara uma promoção ou um elogio, eram só ordens daqui e dali. Todos, exceto a faxineira, davam ordens á ele. Até clientes que tinham uma conta recheada, ele teve de escoltar até o carro. E mal recebia um obrigado. Então, era mais do que justo aquilo em que estava metido. Não queria passar o resto da vida protegendo o dinheiro alheio e, ganhando uma mixaria pra isso. Ah, claro, ainda tinha a cesta básica e o vale transporte que ele vendia no terminal de ônibus para comprar a mistura da marmita. Trabalhava sem colete, sempre trabalhou. Seus superiores diziam que este instrumento não fazia parte do seu dia-a-dia, e que, num possível assalto tentasse impedi-lo de alguma maneira, mas que não reagisse. Todos esses pensamentos passavam na cabeça de Luciano enquanto ele caminhava rumo ao seu trabalho. E, quando passou em frente ao Presídio da Teotônio Cardoso, sentiu um frio na espinha que até doeu. Parou e fez um breve alongamento. Algo iria acontecer nesse assalto, ele só não sabia o quê. Chegou à agência e fez o de sempre. Tomou seu café com o segurança noturno, e após dispensá-lo, correu para a sala de filmagem e jogou água no sistema das câmeras que logo começou a falhar. Foi para o seu posto de trabalho, na porta, para controlar a entrada dos funcionários que às nove começavam a chegar, e entre esses, chegavam outros seguranças. Às dez da manhã, depois de todos os caixas estarem funcionando normalmente, a agência abria suas portas para mais um dia de atendimento. O gerente que naquele dia chegou mais cedo, chamara um dos seguranças na sala de filmagens para verificar o que tinha de errado com as câmeras que não funcionavam. Luciano tentava manter a calma, mas mesmo em meio ao ar condicionado, estava suando discretamente. Seus colegas de trabalho não perceberam. O assalto estava marcado para às onze. Pensou em ligar para seu cunhado e dizer que algo tinha dado errado e que cancelasse o assalto, mas reconheceu dois integrantes da quadrilha que já estavam na fila para entrar. Queria tomar um copo d’água, seu coração batia aceleradamente, num ritmo de “outudoounadaoutudonada”. Estava com a resposta no bolso da calça, um aparelho pequeno com um botão ao centro que podia travar ou destravar a porta. Quando o primeiro foi passar, a porta travou. Enquanto o assaltante abria a mochila numa interpretação, Luciano tinha as axilas pingando suor. Toda a sua situação econômica passou pela cabeça rapidamente. Vale a pena trocar o certo pelo duvidoso? O certo seria ele continuar naquela vida miserável com sua sogra olhando pra ele e vendo um mero inquilino que não paga aluguel, um impotente que só serve para fazer filho. O mais certo ainda, seria ele continuar dependendo de vereadores com suas promessas eleitoreiras e suas falas de “volta outro dia”. Ou de ficar participando de mutirões de casas próprias e nunca ser o sorteado. O duvidoso seria o assalto dar certo ou errado. Se desse certo ele iria comprar sua casa simples, de quatro cômodos, e dar uma vida melhor para os seus. Dando errado ele poderia ser descoberto e perder o emprego, ir preso ou até morrer. Vale a pena Luciano Mello da Silva? “Vale”. Disse ele consigo mesmo liberando a porta para o assaltante que já estava impaciente. A partir dele todos os clientes foram entrando sem problemas, inclusive os outros integrantes da quadrilha. A agência tinha dois andares e, enquanto dois assaltantes dominavam clientes e seguranças do andar de cima, um outro ficou na escada controlando a passagem. Na parte superior tudo ocorreu bem. O assalto estava dando certo e, não fosse o cunhado de Luciano, tudo passaria sem nenhum disparo. Na saída o desgraçado atirou no segurança que guardava a porta. Luciano caiu com um grito que ecoou por toda a agência. Clientes e funcionários que estavam na parte de baixo se apavoraram. O carro usado para a fuga da quadrilha se afastava do local em alta velocidade. Só quando estavam fora de serem perseguidos, é que comemoraram o sucesso da empreita. O chefe da quadrilha era elogiado pelo tiro certeiro que dera no braço de seu cunhado. Haviam acordado entre eles que um disparo em Luciano cortaria qualquer suspeita contra sua pessoa. Luciano passara dois dias no hospital. Lá ficara sabendo através de uma ligação o objetivo do disparo. Depois disso se acalmou, pois como não haviam combinado nada com ele, achara que o tiro fora para matá-lo e deixá-lo fora da partilha. Para ter os movimentos de volta no braço direito terá de fazer três meses de fisioterapia e tomar muito remédio. Mas isso não é nada perto do que conseguiu, pois além de ganhar seus trinta por cento, conseguiu sem muito esforço uma aposentadoria equivalente a três vezes o valor de seu salário, por conta do acidente ocorrido no ambiente de trabalho. Enquanto muitos migravam do Nordeste para São Paulo, ele resolveu fazer diferente. Comprou uma casa e mais um lote de terra em Ibirataia, interior da Bahia, e resolveu fugir da cidade paulistana. Agora trabalha em sua terra plantando e colhendo, levando as crianças para escola e cuidando bem de sua esposa. Agradece a Deus todos os dias e vive convidando seus amigos e parentes para comer em sua casa ou, quem sabe, passar umas férias por lá.
Sacolinha!

Conflitos

Muitos são os momentos em que estamos em crise. É necessário aprender a administrar estes conflitos.

Crônica...

Crônica de um jovem salvo pela literatura!
Sou quem sou, graças aos livros. Se não fossem eles eu estaria a sete palmos abaixo da terra.
Nasci numa família na qual a leitura vinha em último plano. O máximo que acontecia era um dos meus tios que, aos domingos, durante o café da manhã abria um jornal, o extinto Diário Popular, e ficava ali a folhear durante horas. Mas isso não durou muito, pois ele acabou ficando desempregado e o primeiro corte de gasto foi o jornal. Um outro tio que hoje é padre, fora durante alguns anos, coordenador da sala onde estudava e muito amigo dos professores e diretores. Sendo assim, ganhava muitos livros. Às vezes chegava em casa com uma caixa fechada de livros novos. E eu nem aí com nada. Só queria mesmo era saber de empinar pipa, jogar bolinha de gude, rodar pião, brincar, brincar e brincar. Lembro que o primeiro livro ao qual fui obrigado a ler (e não li) foi indicado pela professora de literatura quando eu estava na quinta série. Ela passou o livro no início do bimestre e, no fim dele, iria dar uma prova. O tempo foi passando e nada de eu ler o livro. Até que num domingo, que antecedia a prova, eu resolvi pegar no livro. Antes, porém, havia perdido a pipa que empinava. Então lá fui eu, naquela tarde calorosa, em que o céu azul era completado pelas pipas e pelos pássaros que voavam no ritmo do vento. Peguei o livro, observei a capa, vi a página de rosto, li a primeira página, passei para a página do meio, e... Olhei para um lado e para o outro, fui até a página final, li e fechei o livro satisfeito. - Bom, dá pra tirar metade da nota. – Pensei sorridente. No dia seguinte, a professora mal deu bom dia e tome-lhe prova. Resultado: não consegui responder nenhuma pergunta. Com isso, eu cheguei à conclusão de que quando se faz algo que é obrigatório, não rende e não se produz nada. Em 1998, mudamos de Itaquera para Suzano e mesmo assim continuei trabalhando como cobrador de lotação onde eu morava, e pra isso pegava os trens da CPTM às quatro da manhã. Só que três anos depois, chegou um momento em que eu não agüentava mais ficar olhando para cara das pessoas dentro do vagão, e não conseguia cochilar. Precisava fazer alguma coisa para passar o tempo, aquilo ali estava ficando um marasmo dos diabos; as pessoas quando não estavam dormindo, ou estavam jogando baralho (e eu até hoje não sei jogar, a não ser o 21 que, muitos conhecem pelo nome de burrinho), ou fofocando ou falando das novelas. E foi então que comecei a prestar atenção n'algumas pessoas que liam livros ou riscavam revistas de passatempos. Pedi um livro para o meu tio, que tinha vários debaixo de sua cama. Ele negou dizendo que eu não iria ler, e que iria era estragar os livros. - Deixa estar, eu dou um jeito. – Disse para mim mesmo com um riso sarcástico. E foi quando ele deu uma saída, entrei no quarto e peguei um livro. Comecei a ler no trem apenas para passar o tempo. Alguns dias depois, eu já reclamava quando a composição chegava na estação de Itaquera. - Poxa vida, podia ter mais uma estação pra eu ler pelo menos mais uma página... E virei leitor de fato, lia não mais para passar o tempo, e sim por prazer e busca de conhecimentos. E assim os livros foram sumindo das caixas debaixo da cama do meu tio. Até hoje ele não sabe disso. Aliás, até o momento que ler esse texto. Sempre fui bom em redação, escrevia histórias com muita facilidade na época da escola. Só não gostava de ler, ou não me ensinaram a gostar. Então comecei a colocar no papel tudo aquilo que via no meu cotidiano. Todas as cenas de injustiças sociais. Assim me sentia vingado, pois estava num momento de inquietação e conflito; meu padrasto havia acabado de desaparecer e eu virara chefe da casa, o único que tinha um emprego (informal), e com 19 anos de idade. Precisava fazer alguma coisa para me extravasar; ou eu partia para o lado da pólvora (crime), ou para o lado do açúcar (cultura). Optei pelo açúcar, que às vezes é um pouco amargo. Então, todas as coisas que eu tinha pra dizer, colocava no papel em forma de rap ou de texto literário, e não mais me sentia pequeno. A partir daí, percebi que eu poderia fazer um estrago muito maior com a literatura, o contrário se eu tivesse ido para o crime. E assim comecei a ser mais seguro de mim mesmo, dono de minhas atitudes e dos meus atos. E toda vez que eu estou em algum local público e abro um livro, me sinto o todo poderoso, como se eu tivesse o bem mais precioso do mundo; e tenho. O modo e as técnicas de como escrever eu aprendo lendo. O talento já veio comigo, só preciso aperfeiçoar a cada dia. Três anos e meio depois de tudo isso, lancei o romance "Graduado em Marginalidade", meu primeiro livro. No ano seguinte (2006), lancei uma obra de contos, intitulada "85 Letras e um Disparo". Antes, porém, participei de vários concursos literários e fui premiado em muitos deles. Sou quem sou, graças aos livros. Se não fossem eles eu estaria a sete palmos abaixo da terra. E hoje procuro mostrar a muitas pessoas o que um livro pode fazer na vida de alguém. Eles salvaram a minha e continuam salvando. A literatura também salva. Esse é o meu testemunho.
Sacolinha é escritor e agitador cultural. Autor dos livros: Graduado em Marginalidade (romance) e 85 Letras e um Disparo (contos). Ministra palestras em escolas, presídios e faculdades. e-mail para contato: sacolagraduado@gmail.com

Seriedade

Precisamos ser convictos nos nossos planos e sérios no que fazemos hoje.

CAMINHOS CRUZADOS*

*Conto retirado do livro 85 Letras e um Disparo - 2006 Verão de 1994. Três horas da tarde. A partida havia parado por conta do calor de 42º que castigava as cabeças dos 22 jogadores. Kauê saiu calmamente do campo, conversando com Tico, zagueiro do seu time. Firmino, jovem de 26 anos que até então assistia a tudo, abordou Kauê: - E aí Negão, posso conversar com a sua pessoa? – Perguntou Firmino. - Pode não, deve. Num sou nem uma estrela pra você perguntar isso – Responde Kauê. O zagueiro cumprimentou os dois e foi embora. Firmino olhou firme nos olhos de Kauê e disse: - Matei, tô roubando, cheirando e bebendo. E aí, que tu tem pra mim dizer? Kauê tentou raciocinar: como assim, por que, o que eu falo? Acabou por responder: - Firmino, que história é essa rapá, tá louco é? - Que louco o quê Negão, foi o que aprendi a fazer. - Porra Firmino, tanta coisa pra aprender e você foi aprender logo isso? Kauê e Firmino cresceram juntos no Morro do Culhão, Rio de Janeiro. Os dois têm a mesma idade. Presenciaram muitas coisas junto, entre elas, o destino das pessoas que entraram na vida do crime através do tráfico de armas e drogas. O pacto que fizeram na adolescência era de que nenhum deles iria se envolver com qualquer tipo de coisa que levasse ao caminho do mal. É claro que não viraram santo, mas seguiram à risca este pacto. Aos dezessete anos Kauê começou a compor sambas enredos para alguns blocos carnavalescos. O primeiro enredo de sua autoria foi o escolhido por uma escola. Nem precisou distribuir a letra xerocada e muito menos lotar um ônibus para torcerem pro seu samba no dia da seleção, como muitos faziam. A partir daí, arriscou algumas poesias, mas não tinha o tal veio literário, sendo assim, ficou só nos enredos mesmo. Firmino deixava a vida o levar. - Tô trampando, tô ajudando no barraco, minha cerveja é eu que pago, então o resto é que se foda, tá ligado? Resumia assim a sua vida. O início da juventude dos dois, fora um momento indescritível, prazeroso até demais para quem viveu cercado de miséria e teve que dormir no chão para não ter o perigo de ser vítima de bala perdida. Nos finais de semana os dois iam ao baile e à praia. Dinheiro quase não tinham, mas viviam cercados de mulheres e amigos. Kauê costumava comparar a vida deles como a de um artista malandro: - Nós somos igual a um poeta de nome Bocage; o cara trepou, bebeu, comeu e fodeu sem ter dinheiro, como ele mesmo dizia quando era vivo. E dizem que o malandro ainda pediu pra escrever isso na lápide dele, há, há, há... Vê se pode? Kauê até conseguiu convencer Firmino de fazer um curso qualquer pra ter uma segurança, um diploma debaixo do braço pra quando precisasse. Mas, logo na primeira semana de aula, Firmino se sentia excluído da turma. Não entendia porra nenhuma do que a instrutora dizia e, nesta situação de iniciante, só havia ele. E pra piorar, a danada da professora era um mulherão. Enquanto ela explicava Firmino ficava contemplando aquelas pernas, imaginando os dois sozinhos na sala e ele a seduzindo de tal forma que a aula começou a ser prática: ela pegava em seu mouse e explicava detalhe por detalhe daquele instrumento essencial para o bom desempenho do computador que, naquele instante era o teu corpo. E quando ele começava a introduzir seu mouse naquela tela de prazeres, a professora o despertou do devaneio: - Firmino, não está me ouvindo não? Acabou largando o curso: - Não dá não Negão, essa merda de linguagem HTML e os escambaus não é pra mim, deixa pros boy. Meu negócio é outro. E assim os dois continuaram vivendo; serviço, futebol, mulheres, bebidas e samba. Mas chegou o dia em que Firmino perdeu o emprego. Passaram-se dois anos e meio e nada de um serviço, só mesmo os bicos de segurança e servente de pedreiro. Já estava enjoado daquela vida monótona. Nada mais acontecia. Ele precisava de uma nova sensação, algo pra levantar a sua moral que, como dizem na comunidade: “Homem sem moral é um cachorro fuçando lixo na madrugada”. E era assim que Firmino se sentia. Começou a se isolar. Tanto que se afastou das mulheres e das amizades há muito cultivadas. Foi aí que o crime agiu. Firmino se envolveu com os traficantes. Esses deram a ele o que estava precisando: carinho, proteção e divertimento. Era agora um dos funcionários da boca-de-fumo que atendia no asfalto, onde os clientes eram universitários, filhos de gente famosa que vive na frente dos holofotes. Agora sim, voltara a viver. Não estava nem aí com o seu destino, só queria saber do agora: - O amanhã que se dane! – Dizia ele. Só que o crime não se resumia apenas naquilo. Por isso teve que partir para os assaltos. Num desses, ele matou um funcionário de uma mansão no centro do Rio. Aí veio a sua decadência. Começou a cheirar cocaína e a matar sem piedade. E depois de alguns meses sem se verem, Kauê e Firmino conversam no escadão do campo de futebol: - É por isso que tu sumiu né rapá? – Disse Kauê. - Ô Negão, bóra ali tomar uma breja. Caminharam calados até o boteco mais próximo. Lá beberam cerveja e jogaram três partidas de sinuca, todas ganhas por Kauê. - Porra Firmino, nem no taco você é o mesmo hein rapá... Conversaram durante toda a tarde. Kauê sempre dando conselhos e apontando outros caminhos que, ele mesmo sabia não chamar a atenção do amigo. Firmino levantou. Eram cinco horas da tarde e ele precisava ir. Tinha uma encomenda pra buscar lá no Morro do Sovaco. Pagou a conta e agradeceu a companhia do amigo, precisava desabafar com alguém e, mesmo tendo quebrado o pacto feito na adolescência, ele estava ali, disposto a ouvi-lo. Só ouvir mesmo, pois como Firmino dissera, agora é tarde, não tinha como abandonar o crime. Se saísse os caras matavam e se ficasse tinha de matar. Agora se bobear é “CC”, como dizem os veteranos do crime: “É caixão ou cadeia parceiro”. Kauê ficou vendo o amigo caminhar até desaparecer nos meios dos barracos que cercavam o morro. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Já sabia o futuro do companheiro. Amaldiçoou o crime e às verdadeiras pessoas que ganham com ele. Respirou fundo e, fazendo um barulho estranho cuspiu uma bola verde de catarro. Saiu caminhando no lado oposto em que o amigo seguira. Estava pensando em ir na sua mãe de santo e pedir uma saída para a vida de Firmino. Os dias passavam normalmente na vida daquelas dezenas de famílias que habitavam o Morro do Culhão. Kauê via o amigo regularmente. Firmino não perdera o seu lado solidário, principalmente com Kauê que ele apelidara de Negão na sua adolescência. Sempre que eles se encontravam, Firmino oferecia ajuda: - E aí Negão, tá tudo certo mermo, num tá precisando de uma ajuda? Cê tá ligado que pode contar comigo em tudo né? Ás vezes explicava: - Você é meu irmão cara, tá ligado? Nós foi criado tudo junto nesse morro aí ó, conhecemos tudo aqui melhor do que ninguém. Se lembra quando nós ía roubar cana lá na plantação da família Mendes? No dia do jogo do Flamengo e Fluminense, Kauê subiu em cima da casa pra girar a antena, enquanto procurava a melhor posição, escutou a voz do Firmino: - Salve irmão, qué uma força aí? - Valeu cumpádi, pode deixar que eu ajeito sozinho, essas porras de televisão são foda. - Vou ti dar uma TV com parabólica no seu aniversário, pode anotar aí. - Olha que eu cobro hein? - Tu num vai nem precisar, antes mesmo de você cobrar ela já vai estar na sua mão. - E você, não vai assistir o jogo não? - Vou assistir lá no bar do Taquara... - Assiste aqui pô... - Num vai dar, vou assistir lá por que tenho que resolver uma fita também. - Então beleza. Firmino saiu. Kauê ajeitou a antena e desceu. O jogo começou: drible, xingos e vaias. Não saiu disso. Kauê escutou tiros, mas nem se preocupou, isso era normal, ainda mais em dia de jogo. Não sabia por quê mais lembrou como Firmino estava há poucos minutos; nervoso, agitado, inquieto... Fim do primeiro tempo: 0 x 0. Kauê aproveitou o intervalo para comprar cerveja. Quando ía subindo para o bar do Taquara, viu a namorada do Firmino correndo, chorando e gritando para ele: - Mataram Firmino, mataram Firmino... Kauê não quis entender: - Tá doida mulher, pára de brincadeira, não tem o que fazer não é? Ela se perdeu em gritos: - Num tô brincando não, mataram ele, mataram Firmino... - Aonde? - Lá no bar do Taquara... Ele correu pra conferir. Chegando lá viu o corpo do amigo todo ensangüentado. O comentário que ouviu foi: - Só no peito deram seis balaços. No velório Kauê lembra dos momentos em que estiveram juntos. Momentos iguais àqueles dias em que mijavam num pote, amarravam uma linha nele e colocavam do outro lado da viela. Quando alguém passava eles levantavam a linha e o líquido do pote voava certeiro na calça do infeliz. Lembrou também do dia em que perderam a virgindade, tinham 14 anos. Passaram a semana juntando alumínio. Com o dinheiro que receberam foram na Praça do Galo e convenceram uma prostituta. Neste momento Kauê dá um sorriso lembrando do amigo tirando um sarro da sua cara por que assim que a prostituta abaixou a calcinha ele gozou. Firmino sempre caçoava do amigo: - Tu é foda mermo aí, só foi a mulher mostrar aquele negócio cabeludo, que tu já se gozou... ah, ah, ah.... Kauê é despertado por uma mulher que chega desesperada e pede para segurar a criança. Ele percebe as semelhanças entre o bebê e Firmino. A mulher vai até o caixão, levanta o véu e começa a falar com o defunto: - Firmino, seu desgraçado, não me deixa... ingrato, olha aqui... sou eu, você não tem o direito de me deixar... Na medida em que gritava, as lágrimas escorriam dos seus olhos e caíam na face dura e fria de Firmino, defunto indiferente a tudo e a todos. Kauê não conseguiu segurar as lágrimas que brotaram de seus olhos.
Sacolinha, é escritor. Autor de Graduado em Marginalidade e 85 Letras e um Disparo! Atualmente ministra palestras em presídios, escolas e faculdades.

Satisfação

E aí pessoal? Beleza? Descupem a demora da postagem, mas essa semana que passou não foi brincadeira. Quero dizer que o que foi prometido será cumprido. Daqui á pouco irei publicar os textos de que falei num post mais abaixo. É que estou entrando de férias e vou ficar uns quinze dias sem atualizar este blog, por isso vou publicar vários textos meus e algumas imagens para deixar aqui enquanto estou trabalhando nos meus próximos livros.

quarta-feira, julho 11, 2007

COLE

Saudações.
Nesta quinta estarei em Campinas, onde ao lado de Sergio Vaz, Dinha, Allan da Rosa e Buzo, discutirei sobre a temática "Literatura Periférica".
Esta atividade faz parte do Congresso de leitura - COLE - que está ocorrendo na cidade de Campinas desde 10 de julho e termina amanhã.
Quem estiver por lá dá uma passada no stand da Ação Educativa, que lá, além dos materiais da entidade, você ainda encontra diversos livros que versam sobre o cotidiano da periferia.
Abraços!

terça-feira, julho 10, 2007

Aniversário

Gente do bem, não sou disso, mas esse ano estou merecendo e vou aproveitar para pedir: Dia 09 de agosto eu faço aniversário, 24 anos, e vou dar uma dica pra quem quer me presentear. Na minha biblioteca ainda não tem o livro "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa. Pode ser usado, não sou exigente. Se alguém de outro estado quiser dar esse presente á mim, envie pelo correio. É só passar um e-mail para: sacolagraduado@gmail.com e pedir meu endereço. Caso queira fazer uma surpresa e ainda não tem meu endereço postal, é só procurar pelo google em nome de: Ademiro Alves (Sacolinha).
Ô bicho convencido.
Mas é isso. Valeu.

segunda-feira, julho 09, 2007

Publicações!

Estas capas fazem parte do meu histórico literário. Publicações que organizei, participei ou mesmo individual, como é o caso dos meus dois livros. Tudo isso entre 2005 e 2007. Aguarde, pois tem muito mais pela frente.

sexta-feira, julho 06, 2007

Quilombhoje

... E quem for comparecer na discussão literária á cerca do meu romance "Graduado em Marginalidade" no dia 04 de agosto, sábado, das 15h às 20h, lá na sede do Quilombhoje, tem que confirmar presença pelo telefone (11) 6959-1647 até o dia 27/07/2007 (data limite).

Fim de Semana

Saudações á todos.
Como vão? Eu vou bem, como sempre, e correndo pra cacete.
Neste fim de semana irei finalizar algumas inscrições em prêmios e concursos de lei de incentivo à cultura. Quem não sabe, têm uma dezena de editais abertos. Para citar alguns; FUNARTE, PRÊMIO VIVA LEITURA, CULTURA VIVA, VOTORANTIM, FURNAS E PETROBRAS.
Tem muito dinheiro por aí, e eu é que não vou ficar de fora chorando e reclamando que não tem apoio e blá, blá, blá. Tem é que correr atrás mesmo, caso contrário os grandes empresários é que vão abocanhar essa dinheirama para fazer shows de seus grupos musicais. Sem contar que há um grupo religioso doidinho lá no congresso querendo a aprovação de um projeto de lei que aceite projetos religiosos dentro da Lei Rouanet.
Então vamos lá. Acessem pelo GOOGLE que vocês encontram um monte de leis de incentivo à cultura. Só esse ano eu já escrevi 9 projetos, sendo 2 projetos individuais, 5 da Associação Literatura no Brasil e 2 da Secretaria de Cultura, onde trabalho.
O recado foi dado.
Abraços!

quarta-feira, julho 04, 2007

Periferia no Centro

Não deixe de comparecer no lançamento do livro "Colecionador de Pedras" do meu amigo Sérgio Vaz, lá em Taboão, mas caso não der, dê pelo menos uma passada no Sesc Consolação para assistir ao Sarau Performático da Associação Cultural Literatura no Brasil. Informações no cartaz abaixo.

Clique em cima para visualizar!

segunda-feira, julho 02, 2007

A semana

O fim de semana foi carregado de atividades, e todas deram certo, graças á Deus. Agora, esta semana não fica atrás; tem lançamento do livro do amigo Vaz, tem Cartografia Literária no Sesc Consolação com a Associação Literatura no Brasil que estará em peso apresentando um sarau performático. Tem palestra minha hoje na escola Joviano no Jd. Colorado em Suzano, palestra onde encerro o ciclo desse primeiro semestre de 2007. Tenho espetáculo para avaliar lá no Centro Cultural São Paulo. Tem reunião da Associação e mais algumas outras atividades.
A articulação está á toda prova, sem parar, pois, como eu escrevi aqui neste blog: "Quando procurei espaços não achei, então resolvi cavar os meus" e de outros também, até porque é fundamental saber trabalhar com o coletivo. E mais: "Tô correndo hoje para não precisar correr amanhã".
E assim vai.
Abraços às pessoas que acessam esse blog para saber mais sobre mim. Esse mês irei prestar uma homenagem á vocês, publicando aqui no dia 13 deste mês vários textos de minha autoria, entre contos, crônicas e poesias. Depois entrarei de férias total, pois preciso adiantar minhas escritas, e só voltarei aqui no dia 02 de agosto, com todo o vapor e disposição que sempre tive.
Até daqui á pouco.